"Tu te tornas eternamente responsável pelo que cativas" ?

Bobby Vini
31 de ago. de 2016
3 min de leitura

A leitura abre as portas do saber, e nos faz andar por mundos que só existem em nossas mentes. A falta de hábito pode resultar na má compreensão do mundo a nossa volta, não conseguir interpretar sinais simples e articular ideias em conversas ou em discussões de algum assunto.

A leitura que venho aqui indicar é do famoso livro Le Petit Prince, O Pequeno Príncipe em português do Brasil, escrito pelo ilustrador, escritor e aviador francês Antoine de Saint-Exupéry, e publicado em 1943. Se tornando uma das obras mais traduzidas do mundo, publicada em mais de 220 idiomas. Conta a história de um Principezinho que habita com sua rosa em um pequeno planeta, resolve viajar e conhecer outros planetas, e acaba vindo para a Terra.

Apesar de alguns considerarem uma leitura muito complexa para crianças, não existe restrição de idades, além de ajudar crianças a desenvolverem a vontade pelo conhecimento e entendimento de como as coisas funcionam. Acho uma leitura indispensável para qualquer pessoa.

O autor do livro pode também ser encarado como um poeta, pois consegue desenvolver a história de um modo que nos faz vivenciar as situações dos personagens, e de certo modo até lírico, enfatizar ao mesmo tempo de forma poderosa e sutil, sentimentos que nós não entendemos ou exageramos.

O livro aborda questões muito importantes, pois vivemos em um mundo de relações cada vez mais fragilizadas, e lançado em uma época bem propícia em meio a tempos de guerra, salientando a necessidade do humanismo e de um mundo de paz. Para o autor existe uma necessidade latente do ser humano olhar o mundo como uma criança, retratada pelo principezinho, sem julgamentos e interessado pela descoberta e aceitação do outro.

Mas a frase mais polêmica no livro é a do título acima: “Tu te tornas eternamente responsável pelo que cativas”, e tem-se gerado muitas discussões e controvérsias em cima do que o autor quis dizer com isso, ou se essa tradução para o português está realmente correta. Mas o próprio livro explica o sentido dessa expressão. Primeiro o Pequeno Príncipe pergunta para a raposa o que é cativar, e segundo ela significa criar laços, conquistar, é o que torna algo ou alguém diferente de todos os outros e único, mostrando que há um empenho das partes para se estreitar esses laços.

O que muitos talvez se enganem ao interpretar isso, é por dizer que se tornar eternamente responsável, seria como se a pessoa estivesse para sempre cativa ou presa àquela pessoa. Mas não é bem esse o significado, pois depois de ter cativado a raposa o Pequeno Príncipe teve de deixá-la, mostrando que a separação entre pessoas com fortes laços causa sim sofrimento, mas não indica que não possa ocorrer.

E essa frase chama atenção também para a responsabilidade que temos para com o que conquistamos, seja um amor, um amigo, e outras coisas da nossa vida pessoal e profissional. Pois ao nos relacionar com alguém ou fazer algo, corremos o risco de estar criando laços, e muitas vezes não nos damos conta disso, ou não queremos nos apegar, fazendo o outro sofrer desnecessariamente. O que se espera das pessoas é que ajam de boa fé, ponderem sobre suas atitudes e reflitam sobre suas escolhas de forma razoável e responsável.

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